Efeito antiepileticogênico da música de Mozart

Efeito antiepileticogênico da música de Mozart

Efeito antiepileticogênico da música de Mozart: insights sobre mecanismos reflexos e interação cérebro-ambiente

Efeito antiepileticogênico da música de Mozart: insights sobre mecanismos reflexos e interação cérebro-ambiente

O grupo do professor Ivan Rektor, de Brno, República Tcheca, apresentou um interessante estudo sobre impacto da música clássica em descargas epileptiformes registrada diretamente do tecido cerebral a partir de eletrodos intercerebrais implantados por estereotaxia (SEEG).Mais especificamente, interessou a este grupo confirmar evidências preliminares de que a música de Mozart “SONATA FOR TWO PIANOS K.488” reduz descargas epileptiformes e validar internamente a especificidade desse achado comparando com uma peça musical de (Haydn Symphony N. 94).Como ambos os artistas foram contemporâneos e sua música tem similaridade de estilo, emotividade e repetição de harmonias, foram estudadas diferenças acústicas específicas entre as peças clássicas que pudessem explicar um eventual efeito redutor de descargas.

Os autores estudaram 18 pacientes e quantificaram descargas nas regiões temporolaterais e mesiais de ambos os hemisférios ANTES, DURANTE e DEPOIS de ouvir a peça musical, analisando as descargas nas (sub) partes das peças musicais envolvendo distintos padrões de ritmo, melodia e harmonia.

As descargas epileptiformes ao SEEG foram reduzidas pela música de Mozart, ao passo que ouvir a música de Haydn reduziu descargas apenas em mulheres; já a música de Haydn aumentou as descargas nos pacientes masculinos.

A análise acústica revelou que musicalidade não dissonante com espectro harmônico e “tempo” em decrescendo com partes de alta frequência (característica da música de Mozart) gerou redução das descargas. Em termos numéricos, ouvir a K.448 de Mozart reduziu a frequência de descargas de uma mediana de 28 para 19, enquanto a música de Haydn aumentou de 23 para 26 (p=0,022).

Ao analisar esses dados, permito-me dividir com os leitores alguns insights. Um deles é concordar com os autores de que é improvável que o efeito redutor de descargas de epileptiformes tenha relação com aumento da atividade dopaminérgica a partir de uma ativação do sistema cerebral de recompensa. Os pacientes não eram conhecedores ou apreciadores de música clássica e, como sabemos, gostos musicais variam muito. Assim, em um grupo de pessoas, alguns têm mais prazer ouvindo Mozart e outros ouvido Haydn. O mais provável, realmente, é que características acústicas da música de Mozart ajam em regiões epileptogênicas da mesma forma que outros estímulos sensoriais, reduzindo a probabilidade de hiperexcitabilidade neuronal. Todos nós conhecemos pessoas com epilepsia que referem conseguir, em algumas vezes, controlar as crises com pensamento, um estímulo sensorial cutâneo ou uma mudança do padrão respiratório. Em última análise, seria um efeito “anticrises reflexas” – o oposto do que ocorre quando um estímulo periférico aumenta a excitabilidade de regiões que já tem limiar epileptogênico reduzido, gerando crises reflexas.

 

Share:
Iniciar conversa.
Em que podemos ajudar?
Bem vindo(a) a SL Serviços Médicos! Em que podemos ajudar? Efeito antiepileticogênico da música de Mozart
Powered by